
Intercâmbio entre famílias campesinas do Trairi e Alto Oeste potiguar para conhecer a TS do biodigestor. (Foto: Caio Barbosa – Núcleo de Comunicação | SEAPAC)
A integração de tecnologias como as cisternas, o reúso de águas e os biodigestores têm transformado a vida das famílias camponesas.
Caio Barbosa – Assessoria de Comunicação | SEAPAC
Natal | Rio Grande do Norte

Entrega de mudas de frutíferas e espécies nativas da Caatinga para as famílias acompanhadas pelo projeto “Água Semente da Vida”. (Foto: Núcleo de Comunicação | SEAPAC)
O projeto vem sendo executado desde 2022, na região do Alto Oeste potiguar, onde foram implementados 33 sistemas de reúso de águas cinza em seis municípios: Pau dos Ferros, Encanto, Doutor Severiano, São Miguel, Coronel João Pessoa e Venha-Ver. O sistema de reúso de águas cinzas é uma tecnologia que trata e reutiliza a água proveniente de atividades domésticas, como lavar roupas e tomar banho, para fins não potáveis, como irrigação e limpeza. Este processo não só conserva a água potável, mas também contribui para a sustentabilidade ambiental e econômica das comunidades.
Essa parceria de sucesso com o Banco do Nordeste vem proporcionando uma verdadeira revolução agroecológica nos municípios do Alto Oeste potiguar. A metodologia e o acompanhamento técnico da equipe do Seapac com foco na promoção da agroecologia e integrando isso ao direito ao saneamento rural, tem possibilitado resultados incríveis para a agricultura familiar da região. Além de proporcionar mais saúde para as famílias, também colabora para a melhoria do meio ambiente. O reúso de água amplia as possibilidades para produção de alimentos, tanto de frutíferas quanto de forrageiras, garantido alimento para as famílias e os animais ao longo do ano.
Tecnologias sociais e o fortalecimento da agricultura familiar
No Nordeste brasileiro, a agricultura familiar é uma atividade crucial para a subsistência de muitas famílias e para a economia local. De acordo com dados da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) e do último Censo Agropecuário do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), aproximadamente 10,1 milhões de pessoas estão envolvidas na agricultura familiar em todo o Brasil, com uma grande concentração na região Nordeste. No Rio Grande do Norte, cerca de 130 mil famílias vivem da agricultura familiar, conforme o Anuário Estatístico da Agricultura Familiar de 2022, publicado pela CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares) em parceria com o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

Integração das TS do biodigestor e da cisterna para ampliar a segurança hídrica e energética das famílias campesinas. (Foto: Caio Barbosa – Núcleo de Comunicação | SEAPAC)
Esse número reflete a importância da agricultura familiar na produção de alimentos básicos, como feijão, mandioca, milho e frutas, que são essenciais para a segurança alimentar do país. Porém, essas famílias enfrentam desafios significativos, como a falta de apoio governamental e vulnerabilidades econômicas, além das secas prolongadas e irregularidade de chuvas e, ainda, a desigualdade sociocultural. Esses problemas ambientais e sociais são interligados e criam um ciclo de vulnerabilidade que dificulta a melhoria das condições de vida das famílias agricultoras que vivem no Semiárido.
O enfrentamento dessas questões requer uma abordagem integrada, que inclua tecnologias sustentáveis, políticas públicas de apoio e programas de capacitação para os agricultores. Nesse cenário, o Seapac vem construindo estratégias e ações que possibilitem a essas famílias uma melhor convivência com o Semiárido, por meio de projetos que promovem a agroecologia, a defesa de direitos e a integração de tecnologias sociais.
A instituição já implementou em todo o estado norte-rio-grandense tecnologias sociais, como: cisternas (de primeira e segunda água, além das cisternas escolares); biodigestores; reúso de águas cinza e totais; secadores solares, irrigapote, entre outras. Essas tecnologias têm ajudado no desenvolvimento sustentável das comunidades e garantido um conjunto de direitos sociais às famílias acompanhadas.
Para Fabrício Edino, engenheiro agrônomo do Seapac, a integração das tecnologias sociais é uma estratégia fundamental para as famílias campesinas:
“as cisternas de primeira água garantem água para o consumo humano e água para cozinhar. Assim, por exemplo, as cisternas da segunda água garantem a segurança para a produção de alimentos. E os sistemas de saneamento rural e do reúso de água proporcionam às famílias maior qualidade de vida em termos de saúde, porque eliminam na sua totalidade os esgotos a céu aberto. Dessa forma, possibilita uma segurança de água para a produção de alimentos a partir dos princípios agroecológicos”.
As tecnologias sociais são fundamentais para garantir a sobrevivência e o bem-estar das populações rurais, haja vista que ao obterem o direito e acesso a essas tecnologias as famílias campesinas não só protegem o meio ambiente, mas também constroem um futuro mais seguro e sustentável para as próximas gerações. Como já apontado na matéria, no Nordeste, a agricultura familiar é responsável por quase metade dos 3,9 milhões de estabelecimentos agrícolas do Brasil, o que mostra a relevância dessa atividade na região.

Luiz Silva, agricultor familiar colhendo acerolas que são irrigadas pelo sistema de reúso de águas cinza. (Foto: Caio Barbosa – Núcleo de Comunicação | SEAPAC)
Atualmente, o Seapac acompanha famílias que já possuem em sua unidade de produção familiar (UPF) a integração de algumas tecnologias sociais, como o caso da família de Seu Luiz e Francineide que moram na região de São Miguel, no território do Alto Oeste Potiguar. Essa família já conta com a integração das cisternas de primeira e segunda água, o sistema de reúso de águas cinza, o biodigestor e o secador solar. Essas tecnologias possibilitaram à família uma melhoria significativa no seu dia a dia de trabalho, pois aumentou a produção de alimentos, garantiu a segurança hídrica e a promoção da saúde familiar.
A integração de tecnologias sociais – como o reúso de águas, biodigestores e cisternas – tem se mostrado essencial para fomentar e ampliar a agricultura familiar no Semiárido potiguar. Segundo o Instituto Nacional do Semiárido (INSA), iniciativas como a instalação de cisternas de captação de água da chuva têm garantido acesso à água potável para mais de 1,5 milhão de pessoas no Nordeste brasileiro, permitindo que famílias agricultoras mantenham suas atividades mesmo em períodos de seca prolongada.
Estudos apontam que o uso de biodigestores pode aumentar a produtividade agrícola em até 30%, promovendo a sustentabilidade e a resiliência das comunidades rurais. Os biodigestores também desempenham um papel crucial ao converter resíduos orgânicos em biogás e biofertilizantes. De acordo com a Embrapa, esse processo não só oferece uma fonte de energia renovável para as famílias, reduzindo a dependência de lenha e gás, mas também melhora a qualidade do solo e a produtividade agrícola por meio do uso de biofertilizantes naturais.
Além disso, o reúso de águas – água proveniente de atividades domésticas – para irrigação tem permitido uma maior eficiência no uso dos recursos hídricos. Segundo a FAO, a implementação dessa tecnologia nas propriedades agrícolas familiares do Semiárido pode reduzir o consumo de água potável em até 50%, destinando-a para consumo humano e outras necessidades essenciais.
O Seapac, nos últimos anos, tem trabalhado diretamente para integração das tecnologias sociais na região do Semiárido potiguar. Além das quase 19 mil cisternas, a instituição implementou mais de 70 biodigestores e mais de 145 sistemas de reúso de águas em todo o estado. Essas tecnologias têm possibilitado uma maior integração das famílias e das comunidades com a Caatinga, ampliando a garantia e o acesso a direitos básicos, como: água potável, alimento, saneamento e saúde.

Integração do sistema de reúso de águas cinzas com a cisterna do P1+2 para ampliar o armazenamento de água para áreas de produção. (Foto: Caio Barbosa – Núcleo de Comunicação | SEAPAC)
De acordo com a FAO, programas como o Programa de Cisternas têm beneficiado milhões de pessoas no Semiárido brasileiro, garantindo acesso à água potável e promovendo práticas agrícolas sustentáveis. Outras ações e projetos como os desenvolvidos pelo Seapac não só combatem a pobreza, mas também fortalecem a autonomia das comunidades, promovendo um desenvolvimento rural inclusivo e sustentável.
O apoio e o trabalho desenvolvido pelo Seapac junto aos seus parceiros, em prol das comunidades e famílias campesinas, é fundamental para o desenvolvimento da agricultura familiar no estado, promovendo os ensinamentos e a fé do papa Francisco que define como “louváveis” as famílias que se dedicam à agricultura pela forma solidária do seu trabalho, assim como pelo estilo respeitoso e delicado com o qual cultivam a terra, favorecendo sistemas agroalimentares mais inclusivos, resilientes e eficientes.