Intercâmbio do seapac ecoa força da agroecologia no Semiárido potiguar

No alto da Serra do Camará onde a aridez desafia diariamente a produção de alimentos, o Seapac realizou o primeiro intercâmbio do projeto “Ecoando Agroecologia” reunindo agricultores, técnicos e instituições para testemunhar, na prática, que a agroecologia é caminho real para a segurança alimentar, autonomia camponesa e convivência com o Semiárido.

Intercâmbio do projeto “Ecoando Agroecologia”. (FOTO: SEAPAC/RN)

Caio Barbosa – Assessoria de Imprensa | SEAPAC
Natal – Rio Grande do Norte

Sob o emblemático “cajueiro do conhecimento”, na comunidade do Retiro, em São Miguel (RN), mais de cem participantes se reuniram em um momento de escuta, observação e integração técnica. A caminhada pelo quintal agroecológico permitiu uma demonstração prática das tecnologias sociais em funcionamento, seguida de um diálogo à sombra do cajueiro, reunindo agricultores, equipes técnicas e estudantes. Cada interação reforçou o compromisso com a convivência produtiva com o Semiárido e evidenciou que a agroecologia, ali, não é teoria — é prática consolidada e em expansão.

A presença das 30 famílias beneficiárias do projeto, vindas de oito municípios, garantiu o protagonismo do evento. Ao lado delas estavam representantes das EMATERs, secretarias municipais de agricultura, agentes do Banco do Nordeste e pesquisadores da UFERSA, UERN e IFRN, além de representantes de movimentos sociais como o MPA-RN. Essa rede de realidades e perspectivas diferentes fez do intercâmbio mais que um encontro: fez dele uma aliança territorial que se fortalece na confiança e na colaboração.

De agricultores para agricultores, intercâmbio em São Miguel (RN) – (FOTO: SEAPAC/RN)

A caminhada guiada pela propriedade da família anfitriã, de seu Luiz e dona Francineide, foi um dos pontos altos do dia. As explicações conduzidas por eles e seus filhos apresentaram o quintal produtivo e as tecnologias sociais em funcionamento — que serão implementadas nas famílias participantes do projeto. O que antes poderia parecer apenas conceito técnico, ali se materializava em experiência concreta, demonstrando resultados práticos e replicáveis para as demais famílias do projeto.O reúso de águas cinza mostrou que cada gota pode virar planta; o secador solar revelou que frutas locais podem virar renda e valor agregado; e o biodigestor foi apresentado como agente duplo de transformação, gerando biogás e biofertilizante para o cultivo. Para muitos visitantes, o impacto foi imediato: “enchendo os olhos”. O que se esperava ser demonstração técnica tornou-se demonstração de esperança — o solo seco respondia com fartura.

Foi nesse clima que aconteceu o momento mais simbólico do intercâmbio: a troca de sementes. Uma prática ancestral, carregada de sentidos que vão além da produção. Ao circular entre mãos e bolsos, as sementes levavam consigo histórias e futuros: garantia de soberania alimentar, preservação genética, autonomia cultural e memória agrícola. Ver sementes crioulas viajando entre comunidades e microrregiões foi assistir a um gesto silencioso de resistência e continuidade.

“Cajueiro do Conhecimento” um local de troca de saberes e ancestralidade. (FOTO: SEAPAC/RN)

O encontro também consolidou a etapa atual do Ecoando Agroecologia, que passa pelo diagnóstico social das famílias. Esse processo, conduzido pela equipe técnica do Seapac com apoio de uma plataforma digital desenvolvida em parceria com a UFERSA e o IFRN, garante que o planejamento das ações seja orientado pela realidade concreta — e não por teoria ou suposição. Aliar conhecimento empírico ao conhecimento técnico tem sido uma marca do projeto.

O intercâmbio terminou com a sensação coletiva de avanço. Não apenas pelo que foi discutido, mas pelo que foi vivido. A cada abraço de despedida, a cada promessa de visita futura, a cada semente guardada, ficou evidente que o Ecoando Agroecologia não é apenas um projeto: é um pacto entre famílias e instituições pela segurança alimentar e a melhor convivência com o Semiárido.

projeto “Ecoando Agroecologia” integrando tecnologias sociais com agroecologia. (FOTO: SEAPAC/RN)

Há 32 anos no Rio Grande do Norte, o Seapac reafirma, com iniciativas como esta, seu compromisso com a convivência sustentável com o Semiárido. Em parceria com o Banco do Nordeste e com o apoio de entidades como Emater, Emparn, sindicatos rurais, universidades e associações comunitárias, o Ecoando Agroecologia se afirma como um trabalho que une tradição e tecnologia, ciência e memória, semear e colher — na terra e na vida.

PHP Code Snippets Powered By : XYZScripts.com