Da chuva ao cuidado: educação popular mobiliza 223 famílias no Programa de Cisternas do RN

Em Coronel Ezequiel e São Bento do Trairi, o Seapac realizou o GRH, reunindo famílias, educadores e crianças numa ciranda de saberes que fortalece o direito à água e a convivência com o Semiárido potiguar.

famílias participam do GRH em São Bento do Trairi (FOTO: SEAPAC/RN)

Caio Barbosa – Assessoria de Imprensa | SEAPAC
Natal – Rio Grande do Norte

Entre o fim de novembro e o início de dezembro, 223 famílias das zonas rurais de Coronel Ezequiel e São Bento do Trairi participaram dos cursos de Gerenciamento de Recursos Hídricos (GRH), etapa obrigatória para quem será beneficiado com as cisternas de primeira água do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC). Os cursos, realizados pelo SEAPAC em parceria com ASA Brasil e ASA Potiguar, integram o Programa de Cisternas — uma política pública do Governo Federal voltada para ampliar o acesso à água no Semiárido, região onde 92% dos municípios convivem com seca severa e irregularidades climáticas recorrentes, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA).

Nos dias 29 e 30 de novembro, Coronel Ezequiel recebeu 112 famílias para a formação. Em 6 e 7 de dezembro, mais 111 famílias se reuniram em São Bento do Trairi. Ao longo de dois dias em cada município, as equipes do SEAPAC conduziram uma intensa agenda de atividades voltadas para segurança hídrica, manejo sustentável das águas de chuva, cuidados básicos para o tratamento doméstico, prevenção de doenças de veiculação hídrica, cidadania e participação. A metodologia é fundamentada na educação popular, que transforma o processo formativo em um espaço de troca de saberes e construção coletiva do conhecimento.

As formações são essenciais para orientar as famílias sobre o uso adequado da cisterna de primeira água — tecnologia social que armazena até 16 mil litros de água captada do telhado durante a chuva. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, a cisterna é uma política pública consolidada: mais de 1,3 milhão de unidades já foram construídas no Semiárido brasileiro, garantindo acesso à água potável a comunidades historicamente vulnerabilizadas. Em áreas rurais de municípios situados no Semiárido, onde boa parte da população ainda depende exclusivamente de carros-pipa ou de poços rasos, a cisterna representa uma mudança estrutural na vida das famílias.

Além do conteúdo técnico, o GRH é marcado pela acolhida: café da manhã camponês, almoço coletivo e lanche da tarde reforçam a dimensão comunitária da formação. Os espaços de convivência tornam o processo mais acolhedor, fortalecem vínculos e estimulam a participação ativa dos moradores.

Outro eixo fundamental das formações é a ciranda de educação infantil. Enquanto os adultos seguem as atividades em sala, as crianças participam de vivências pedagógicas que utilizam brincadeiras, histórias e elementos da cultura popular para trabalhar temas como a importância da água, o cuidado com a natureza e a preservação dos bens comuns. Para o SEAPAC, esse trabalho não é acessório, mas estruturante: ao envolver as crianças no processo educativo, forma-se uma geração que compreende o valor da água, reconhece o território e desenvolve uma relação de pertencimento. No contexto do Semiárido, onde eventos de seca impactam diretamente a segurança alimentar, educar crianças para a gestão responsável dos recursos hídricos é um investimento social estratégico.

A convivência com o Semiárido, princípio orientador do P1MC, vai além da infraestrutura. As tecnologias sociais, como a cisterna de primeira água, são ferramentas que fortalecem a autonomia das famílias, reduzem vulnerabilidades e ampliam o acesso a direitos básicos. Segundo o IBGE, mais de 770 mil domicílios rurais no Nordeste ainda não possuem abastecimento regular de água, o que evidencia a importância de políticas públicas permanentes e de ações formativas como as realizadas em Coronel Ezequiel e São Bento do Trairi.

Ao final dos GRHs, as famílias saem não apenas preparadas para utilizar a cisterna, mas também mais conscientes do seu papel comunitário, da importância da organização social e do cuidado coletivo com o território. O processo educativo, aliado às tecnologias sociais implementadas, reforça a segurança hídrica e contribui diretamente para a segurança alimentar, já que a água potável é a base para preparar alimentos, garantir higiene e proteger a saúde das comunidades.

Com os cursos concluídos, o SEAPAC e seus parceiros seguem agora para as etapas de implantação das cisternas, no qual ao final do primeiro semestre de 2026 a instituição terá concluída a construção de novas 1186 tecnologias sociais. Consolidando mais uma ação concreta em defesa do direito humano à água e fortalecendo a segurança hídrica das famílias do Semiárido potiguar.

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